Distribuição: pare de comprar quando os big players estão vendendo

Conheça a fase de distribuição dos ciclos de mercado: os big players estão vendendo caro e eles querem que você seja o trouxa que vai comprar antes da queda

Distribuição é uma das cinco fases do ciclo de mercado. Os ciclos de mercado, por sua vez, são conhecimento básico do Raio X Preditivo, pra que possamos entender o comportamento e a atuação dos investidores institucionais. Os investidores institucionais são aqueles participantes da bolsa de valores que por seus recursos financeiros e por sua necessidade de liquidez em ativos e dinheiro acabam por controlar o deslocamento do preço.

Distribuição, como o nome indica, é o momento em que esses big players estão, de fato, distribuindo ativos aos participantes mais fracos. Eles compraram ativos no fundo do gráfico, baratos, portanto, e também os compraram antes, passivamente, na fase de queda, aproveitando-se do desespero dos outros traders e investidores de menor porte, que queriam se livrar do prejuízo.

Distribuição, então, é o momento de os big playes “desovarem” esses ativos caros a fim de obterem lucro e fazerem o mercado girar dando continuidade aos ciclos de mercado.

Antes, vamos recapitular quais são as fases dos ciclos do mercado:

• Absorção: acontece tanto na tendência de queda quanto na tendência de alta. Na tendência de queda, os big players absorvem o pânico, comprando passivamente dos participantes desesperados por vender e encerrar seus prejuízos. Na tendência de alta, os big players absorvem a euforia, vendendo passivamente dos outros participantes, otimistas com as boas notícias e com o mercado de alta.

Acumulação/distribuição: depois da tendência de queda, o mercado lateraliza e o big player continua a encher o carrinho passivamente, antes de passar a comprar agressivamente, desencadeando uma alta. Depois da tendência de alta, o mercado lateraliza e o big player continua a vende passivamente, antes de passar a vender agressivamente, desencadeando uma tendência de baixa.

• Teste de oferta/Teste de demanda e armadilhas de mercado: depois da acumulação, o big player se retira do mercado; a ideia é verificar se há algum outro participante com força suficiente pra provocar a continuidade da baixa, renovando a oferta de ativos e, se não houver, o mercado está “maduro” pra queda. Da mesma forma, depois da distribuição, ele se retira pra ver se há algum participante forte disposto a dar continuidade à alta; se não houver, o mercado está “maduro” pra queda. Nessa hora, pode haver rompimentos falsos que chamamos de armadilha de topo (rompimento falso de resistência) e armadilha de fundo (rompimento falso de suporte). Essas armadilhas se dão com baixo volume, demonstrando a falta de interesse profissional na continuidade da alta e da queda, respectivamente.

Spikes de alta e de baixa: uma vez constatada a falta de interesse profissional, através dos testes de demanda ou de oferta, o big player passa a fazer vendas agressivas, agredindo os preços mais baixos de compra, e isso desencadeia um forte movimento pra baixo. Se estávamos na acumulação, ele passa a fazer compras agressivas, agredindo os preços de venda cada vez mais altos. Isso provoca uma reação em cadeia que faz o mercado girar e, então, se ele estava comprando, passa a vender, e, se estava vendendo, passa a comprar, mas, novamente, de forma passiva, se aproveitando do desespero ou do otimismo, respectivamente.

• Spike channel: depois do spike, o institucional passa a operar passivamente, mas o mercado continua a subir ou a cair, embora com menos intensidade. É como se, depois da pancada do spike, o mercado continuasse seu movimento pela inércia. Como um vagão que, mesmo com o motor já desligado, ainda segue alguns metros adiante nos trilhos até finalmente dissipar toda a energia. Nesse momento, o institucional está trabalhando na absorção já.


O QUE É A FASE DE DISTRIBUIÇÃO

Vamos caracterizar a fase de distribuição visualmente, em primeiro lugar.

Toda fase de distribuição se caracteriza pela lateralização dos preços.

No gráfico, vamos perceber que tivemos uma tendência de alta antes e, agora, em vez de um padrão inclinado, percebemos que o preço se desloca lateralmente, desenhando o formato aproximado de um retângulo.

Podemos dizer que o preço entrou em “range”, uma região que os players consideram justa pra negociar e em que oferta e demanda entraram em relativo equilíbrio.

O que os investidores institucionais fazem durante a fase de distribuição

Devemos ter em mente que, antes da fase de distribuição, os profissionais já estavam distribuindo durante a fase de absorção.

Eles estavam se aproveitando da liquidez oferecida pelos demais participantes que estavam eufóricos, empolgados, otimistas e comprando a qualquer preço. Os big players absorviam as agressões de compra passivamente, sem precisar fazer esforço algum, entregando os ativos que compraram baratos lá embaixo. Eles não precisam fazer força porque a demanda está alta e os preços sobem naturalmente.

Mas chegará o momento em que a demanda começará a secar e o mercado atingirá o relativo equilíbrio. Os preços lateralizam. Nesse momento, o big player continua a desovar os ativos que comprou barato a um preço que considera justo.

Através da ação de algoritmos complexos, esses possuidores fortes, dividem as enormes ordens de venda em ordens menores, de maneira que esse equilíbrio não se perca antes do tempo. Imagine que uma ordem de venda muito grande pode aumentar demais a oferta e derrubar os preços antes que ele se desfaça da quantidade enorme de ativos que adquiriu até então. É um trabalho meticuloso, delicado e paciente que pode demorar um certo tempo, dependendo do tempo gráfico a que estamos olhando. Por isso, o preço lateraliza.

Tão logo o big player tenha distribuído tantos ativos quanto queria (distribuição) fará testes de demanda, se retirando do mercado temporariamente. A ideia é verificar se, pela baixa liquidez provocada pela ausência desse big player nessa distribuição, não vai entrar outro player forte interessado em dar continuidade à alta (momentos de baixa liquidez são fáceis de manipular por participantes fortes, com muito dinheiro ou muitos ativos).

Se o teste de demanda der o resultado esperado (baixo volume, permanência ou retorno do preço ao range de distribuição), o mercado está “maduro”. E depois da distribuição, o mercado dará uma pancada pra baixo, com a atuação dos profissionais nas vendas agressivas. É a hora do spike. Mas essa fase é assunto pra outro artigo.


COMO IDENTIFICAR UMA FASE DE DISTRIBUIÇÃO

Uma fase de distribuição, de certo modo, é fácil de identificar.

Primeiro temos uma fase de alta, marcada por um alto volume em seu final. Esse alto volume em seu final é o que chamamos de “euforia máxima”. Diversos participantes que estavam de fora acabaram de comprar, sugados pelo mercado, e mesmo aqueles que já estavam em operações abrem novas posições, como se fosse um frenesi comprador.

A seguir, os preços se lateralizam. Vemos a formação de um range, um retângulo que se prolonga no tempo.

Certeza, então, de que se trata de uma distribuição e que, então, devemos procurar operações de venda?

Calma!

Pode ser uma reacumulação.

E, se depois do teste de demanda, entrar de fato um player na compra novamente, colocando diversas ordens de compra, agredindo preços de venda cada vez mais altos?

Nesse caso, sempre há o risco de uma provável distribuição ser, na verdade, uma reacumulação.

Assim, precisamos ficar atento ao volume dos testes de demanda e aos resultados do volume nas armadilhas de topo.

Para isso, usamos as ferramentas do Raio X Preditivo, todas voltadas para o volume.

• A Sato’s Bar nos mostra os volumes barra a barra com um sistema de cores que vai do azul (baixíssima atividade profissional) ao vermelho (atividade profissional ultraelevada): essa ferramenta pode nos mostrar o momento da “euforia máxima” por exemplo.

• Sato’s Force Histograma: essa ferramenta nos mostra o volume a cada pernada de alta e de baixa. Se as pernadas de alta, durante o teste de demanda e durante a armadilha de topo, apresentarem baixos volumes há a grande probabilidade de termos, de fato, uma distribuição e teremos, em breve, um spike de queda


QUAIS SÃO OS OBJETIVOS DA DISTRIBUIÇÃO

Durante a distribuição, o big player tem alguns objetivos importantes, a saber:

• A distribuição tem o objetivo de continuar a distribuir os ativos que o big player comprou baratos no fundo do mercado e que já começou a distribuir durante a alta, passivamente, enquanto os eufóricos agrediam suas ofertas limitadas de venda. Na distribuição, no entanto, o big player não pode desequilibrar o preço e permitir que ativos e dinheiro troquem de mão entre todos os participantes enquanto ele continua a “empurrar” ativos caros. Pra isso, faz uso de estratégias através dos robôs HFT, dividindo ordens grandes em ordens menores.

• A distribuição tem o objetivo de continuar a aproveitar a liquidez oferecida pelo mercado, embora de maneira mais cuidadosa, a fim de não derrubar os preços antes do tempo e antes que o big player tenha se livrado de tantos ativos quanto desejava .


DISTRIBUIÇÃO NAS OPERAÇÕES

Observe nos gráficos todas as fases que antecedem e precedem uma distribuição e as próprias características da distribuição.

• A distribuição é um range, uma lateralização, formando um longo retângulo .

• Antes dela deve ter ocorrido uma tendência de alta .

• Vemos ao final da tendência de alta, um espasmo no volume, que fica ultraelevado, com diversos participantes fracos sendo sugados pra operações possivelmente perdedoras .

• Durante a distribuição, o volume se retrai, mas não o suficiente pra imaginarmos que os big players se retiraram do mercado. Estão atuando discretamente, mas se somarmos todo o volume de um range perceberemos que muito dinheiro e muitos ativos trocaram de mão .

• Observe os testes de demanda, quando o preço retorna para o range ou vai testar a resistência, com baixíssimo volume .

• Observe as armadilhas de topo e seus rompimentos de baixo volume .

• Tudo isso indica, mesmo no calor do gráfico em movimento, que estamos em uma distribuição e podemos ficar procurando operações vendidas .


ENTENDA O QUE É UMA ARMADILHA DE TOPO

A armadilha de topo, como o nome indica, ocorre no topo do mercado.

A velha análise técnica, diferentemente da Nova Análise Técnica, utiliza padrões de preço pra pautar sua análise e suas operações.

Se uma resistência (nível que o preço tem dificuldade de romper para cima) é rompida, a velha análise técnica indica que isso é um claro sinal de continuidade de uma tendência de alta.

Baseado nisso, muitos participantes abrem posições compradas.

Note que isso também é importante para o big player. Dali a pouco, esses participantes fracos farão sua parte para dar continuidade a queda.

Os praticantes da Nova Análise Técnica, no entanto, perceberão que o rompimento se deu com baixo volume. Possivelmente, até mesmo os movimentos anteriores já estavam demonstrando falta de força no fluxo comprador. E, por isso, já estavam atentos a possíveis operações vendidas. Nem passava mais pela cabeça destes operações compradas, salvo se houvesse outros sinais para isso.

Acontece que, depois do teste de demanda e depois da armadilha de topo, características da absorção, o big player irá continuar a operar na venda. Mas, desta vez, de forma agressiva. Quer dizer, em vez de esperar que os compradores aceitem seus preços, ele tomará a iniciativa e irá comprar as ofertas limitadas a preços cada vez mais baixos, esgotando as ordens de compra a preços inferiores.

Isso provoca queda violenta e rápida no preço. Lembra daqueles caras que compraram no “rompimento” (armadilha de topo)? Eles percebem que precisam encerrar suas operações. Operações de compra são encerradas com venda. Vendas significam oferta maior. Oferta maior faz os preços caírem mais. A essa altura, os participantes que compraram no range também terão que vender, com medo de ter ainda mais prejuízos.

A essa altura, a cotação está caindo sozinha. E o big player já não precisa fazer força. E, agora, ele volta a atuar na absorção, absorvendo o pânico dos participantes fracos, fazendo “o favor” de comprar os ativos a preços cada vez menores. Comprando passivamente.


TESTE DE DEMANDA: COMO OCORRE?

Antes de começar a agredir as ordens de compra cada vez a preços menores, vendendo na agressão, o big player precisa saber se não há outro profissional atuando na compra ainda, interessado a fazer os preços subirem ainda mais.

Então, a certo momento da distribuição, o big player se retira. O volume de negócios cai, a liquidez do ativo cai. Pouca gente querendo comprar, pouca gente querendo vender... só os traders e investidores de varejo, gente como eu ou você que, para as dimensões reais do mercado, não significam basicamente... nada.

Mercados com baixa liquidez são fáceis de manipular. Imagine que, acima do range de distribuição existem poucas ordens de venda. Qualquer participante com bala na agulha o suficiente é capaz de esgotá-las uma a uma levando os preços mais para o alto. É uma oportunidade e tanto se há alguém interessado na continuidade da alta.

Portanto, o big player em atuação na distribuição de ativos que comprou baratos, lá embaixo, precisa se “amoitar” pra ver se não tem um “cara” com essas intenções. Pois se ele começar a agredir na venda para derrubar os preços pode entrar na briga com um outro tão grande quanto ele, o que seria um desperdício de energia.

Mas, se, depois do teste de demanda, esse participante não entrar, está na hora, sim, de ele começar a agredir na venda.


COMO GANHAR COM A FASE DE DISTRIBUIÇÃO

Se detectamos que se trata de distribuição de fato, com todos os sinais que a distribuição tem, está na hora de procurarmos operações na venda com pontos bem claros de entrada e saída.

Que sinais seriam esses:

• Lateralização: tanto a distribuição quanto a acumulação se caracterizam por longos range em que o preço fica oscilando durante um certo tempo em faixa relativamente estreita

• Antes do início da lateralização houve forte tendência de alta em que o big player provavelmente estava absorvendo as agressões dos compradores, já distribuindo ativos a preços cada vez mais caros

• Ao final da alta, antes da lateralização que caracteriza a distribuição, vimos um espasmo de volume ultraelevado, caracterizando a euforia máxima. Imagine que até a sua tia de 85 anos que mora em Taubaté resolveu entrar na bolsa de valores e comprar umas ações da Vale e outras da Petrobras

• Depois de um período em distribuição percebemos que o volume de negócios cai e vai testar a resistência: esse volume indica perda de força da tendência de alta

• Pode haver rompimento da resistência, chamando participantes que fazem leitura de Price Action para as compras. Porém, esses participantes não são institucionais e o rompimento se dá com baixo volume

Já no momento do falso rompimento (armadilha de topo), traders mais agressivos do Raio X Preditivo poderão entrar em operações de venda. O que é praticamente heresia para os seguidores da análise técnica convencional (operar contra a tendência).

Nessas operações vendidas, podemos, por exemplo, colocar nossos stops pouco acima do novo topo formado pelo falso rompimento. Note que se trata de um stop curto (risco baixo), mas se o spike de baixa se confirmar os ganhos possíveis são bastante altos.

Traders mais conservadores poderão esperar que o preço retorne para o range da acumulação, desta vez com um provável volume crescente nas pernadas de baixa e que, finalmente, rompa o range de distribuição com volume, indicando o retorno do big player agredindo na venda.

Numa operação como essa, constatado o grande volume, podemos entrar vendidos no rompimento do range colocando o stop pouco acima do range ou mesmo dentro dele.


CONHEÇA O RAIO X PREDITIVO

O Raio X Preditivo é a metodologia que utiliza a leitura do volume para constatar a atuação daqueles participantes que comandam o preço dos ativos da bolsa de valores através do grande fluxo de ordens e pelo motivo de sua grande necessidade de liquidez. Essa liquidez é dada a eles através do desespero ou da euforia dos outros participantes.

Para fazer essa leitura, o Raio X Preditivo faz uso de conceitos – como as fases do ciclo de mercado e, dentro delas, a distribuição, entre outras – e ferramentas. As ferramentas colocam os conceitos teóricos para funcionar diretamente no gráfico.

O Raio X Preditivo considera o volume como a causa e o movimento dos preços como o mero efeito. Se temos a leitura das causas, podemos nos adiantar aos efeitos. Isso significa que temos mais indícios para encontrar regiões saudáveis de trade: aquelas em que temos baixo risco (stop loss curto) versus a probabilidade de ganho alta (stop gain longo).

Além disso, é possível acompanhar as operações com o parâmetro do volume, não precisando esperar até que um desses objetivos – stop loss ou stop gain – para sair de operações. Não há motivo para ver a operação ir para o prejuízo se o volume nos diz que ela não irá para frente. Também não há razão para encerrar a operação se tudo no fluxo de ordens nos indica que ela continuará a ampliar seus ganhos.

Também podemos dizer que o Raio X Preditivo é o estudo da atuação dos players institucionais, já que são eles os responsáveis pelo volume que faz os preços se deslocarem. Para aprender mais sobre os players institucionais teremos em breve um artigo para explicar quem são eles e como atuam.

CONCLUSÃO

A distribuição é apenas uma das fases do ciclo de mercado. Não adianta que a conheçamos isoladamente. Ela só é entendida em conjunto com as outras fases, cada qual com sua característica própria. Além disso, é preciso conhecer como o volume se comporta em todas.

A distribuição é um dentre tantos conceitos do Raio X Preditivo que fazem com que o trader tenha leitura inteligente dos gráficos dos ativos, sem depender de indicadores que “pensam” por ele, chamando compras e chamando vendas. Com conceitos como esse, o trader passa a ter mais responsabilidade por sua atuação, tomando de fato decisões baseadas na realidade da bolsa e no que os participantes fortes estão fazendo.

Espero que com este artigo, ao menos, você pare de entrar em operações compradas quando aqueles que comandam a bolsa de valores já estão pensando em derrubar os preços.

Escrito por Luiz Sato

Segundo Sato sua missão é transmitir conhecimento avançado aos traders brasileiros para aplicarem as metodologias e as ferramentas disponibilizadas ao seus alunos aumentando as probabilidades de ganhos nos mercados que são altamente competitivos e dominados principalmente pelos HFT´s (Robôs de alta frequência).

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Comentários

José Luiz07/06/2020

Conteúdo técnico que relaciona causa e efeito no mercado de renda variável. Excelente!!! Tenho colhido bons frutos com a aplicação destes conteúdos!!!

Sidnei Barbosa Miranda 07/06/2020

Pô massa Sato, não deixe de mandar esses estudos, muito,muito,bom obrigado meu nobre e grande PROFESSOR ?.